segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

NOVOS CURSOS

A POESIA BRASILEIRA HOJE

Caros, eu e a Andréa Catrópa vamos ministrar o curso A Poesia Brasileira Hoje, na Casa das Rosas, entre os dias 09 de março e 29 de abril. O curso será às terças e quintas, das 19h às 22h, e visa apresentar as principais tendências estéticas da poesia brasileira desenvolvidas entre as décadas de 1950 e 2000, como a Poesia Concreta, o Tropicalismo, a Poesia Marginal, o Minimalismo e o Neobarroco. Para isso, serão comentados autores e obras representativos de cada tendência, ressaltando suas temáticas recorrentes e procedimentos formais específicos. O curso abordará ainda questões teórico-conceituais abrangentes, como a crise do conceito de vanguarda, após o eclipse dos projetos sociais utópicos, e a pluralidade de projetos literários possíveis, dentro do momento que Haroldo de Campos chamou de “pós-utópico”. Informações pelo tel. 3285.6986.

LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO POÉTICA (I)

O Laboratório de Criação Poética é um programa elaborado com o objetivo de apresentar conceitos teóricos sobre a poesia e desenvolver exercícios práticos de criação. Um módulo básico do curso, com duração de dois meses, entre 03 de março e 30 de abril, será realizado na Biblioteca São Paulo, localizada na avenida Cruzeiro do Sul, 2.630, com acesso pelo Metrô Carandiru.. As aulas acontecerão às quartas-feiras, das 19 às 21h. Informações pelo tel. 2089 0800, ramal 219

LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO POÉTICA (II)

Para quem já fez o curso básico do Laboratório (módulos 1 e 2) na Casa das Rosas, existe a opção de continuar o curso aos sábados, na rua Indiana, 238, Brooklin Novo, a partir da segunda semana de março. Quem tiver interesse em participar, pode enviar um e-mail para claudio.dan@gmail.com.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

GALERIA: ROBERTO PIVA


SARAU DO LABORATÓRIO (XIX)

RITMO DA AUSÊNCIA

Verdes janelas saltam horizontes

arejando o abstrato

com planos jazzísticos.

Feixes de sons

se entrelaçam

na luz branca

repercutida de faces.

A mente em tumulto,

caminho no ritmo

das cores ausentes

para relaxar a dor.


(Poema de Marcela Cividanes)


* * *

SEM TÍTULO

I

Ele é um homem
que arrasta os dedos
nos bolsos
Guarda violinos
nas costas
Perfura subterrâneos
de desordem
Descansa em casas
vazias
Constrói vitrais
no mar
Oferece minuetos
aos pés
Percorre a via férrea
da velhice
E jura a vida
diante da rocha.

II

Circularmente
as lâminas resvalam o maxilar

Há dias carcomidos
em que o esqueleto
não suporta o mais leve
sobressalto
Há dias
em que o sol é uma úlcera
cerrando os olhos
E o abismo um feixe
de âmbar e sal

É o homem
que apunhala as raízes
dos cadáveres

Não há retorno

Você
Fratura o percurso ígneo
da noite taciturna de braços em riste.
Recriando
os oceanos dos cabelos dos loucos.

(Poema de Ariane)

* * *

METAMORFOSE MODERNA

Estou à deriva. Mediocridade é a bóia que me mantém nivelada com o correto. Uma bússola maniqueísta. O conforto deu-me olhar de boneca: deito – fecho; levanto-abro. Meus pés derreteram. Estou presa, fundidaolátex. Inflada de pesados conceitos. De carne e fundo são feitos os espelhos que flutuam à minha volta. Um alívio estar entre meus semelhantes. Produtos de uma linha industrial. Tenho umbigo na alma, foi lá que injetaram suas imagens de perfeição.

(Poema de Bárbara do Amaral)


* * *

Rum. Nenhuma idéia. Nenhuma nota de rodapé. Almejava a criatividade ácida dos cristáceos. Do-Ré-Mi-Fantasias robóticas. O narrador se foi. “É você o próximo?” Redacionava o mal-me-querubim maldito de sorriso dobrado. Luz, câmara, “ação Benedito que me acuda!”. Status-quociente azul. Será afinal que

quem

cala

con-

sente

sorte?


(Poema de Priscila Gusmão)


* * *
ONÍRICO

Ondas entigrecidas
Na maré montante
Dragões conduzem
Encavalados
A estraçalhar estrelas
E transformá-las
Nas franjas irregulares
Do mar de erínias,
A acordar medusas
Escatológicas,
E anêmonas cristalizadas,
E seres abissais
Em bramidos vãos,
Clivagens de ondinas.
Das paisagens profundas.
E gemidos de sereias
Metamores protelados.
Emerge Calipso,
Vestida de diamantes
Sedutora de Tritão,
Raptor de mulheres.

(Poema de Dóli de Castro Ferreira)

SEM NOME

cometa de muda incandescência, sou um risco obscuro dentro da noite. nos lugares onde brilhei, os nomes recebidos no instante de minha aparição, não quer dizer senão que não me viram.

* * *

a dor pedia líquido à carne, mas seca, ela só pôde oferecer areia àquela que tinha sede.


* * *

a mulher olha a chuva como quem fosse. cada gota era uma dor molhada da sua carne. como quem ela anda anda. passos incertos. pisa em chãos que abismam passos. sua pele some na carne. ela entra em si a cada passo.

(caminhos do dentro)

o escuro a acalanta e pergunta por quê triste — em escuro a resposta:

“se o que nos origina nos é carne, qual é a origem de uma carne que só se sabe dentro de um centro que não pele?”

o escuro a envolve ainda mais. a carne como a chuva se faz gotas que a carrega.

(Poemas do Diogo)