
sábado, 18 de julho de 2009
POESIA DOS QUATRO CANTOS: JAPÃO
chuva de primavera
a água escorre do teto
pelo ninho de vespas
(Bashô)
do orvalho
nunca esqueça
o branco gosto solitário
(Bashô)
pobre sim pobre pobre pobre
a mais pobre das províncias
mas sinta esta brisa
(Issa)
nuvem de mosquito
atrás dela
quioto
(Issa)
Traduções: Paulo Leminski
no pântano de neve
nada se move
na manhã de neve
(Chiyo-ni)
Tradução: Alice Ruiz
a água escorre do teto
pelo ninho de vespas
(Bashô)
do orvalho
nunca esqueça
o branco gosto solitário
(Bashô)
pobre sim pobre pobre pobre
a mais pobre das províncias
mas sinta esta brisa
(Issa)
nuvem de mosquito
atrás dela
quioto
(Issa)
Traduções: Paulo Leminski
no pântano de neve
nada se move
na manhã de neve
(Chiyo-ni)
Tradução: Alice Ruiz
Haicai: poema composto de três versos, com métrica de 5-7-5 sílabas, sem título nem rimas, surgido no Japão medieval. Além da brevidade, o haicai deve ter uma referência à estação do ano em que o poema foi escrito — o kigo —, que se expressa em versos como: “lua de outono”, “vento de primavera”, “o caqui maduro”. Essa forma poética, derivada do tanka, contém toda uma visão de mundo: o primeiro verso, com o kigo, indica uma circunstância “eterna, absoluta, cósmica, não-humana” (Paulo Leminski); o segundo traz uma ação súbita de um homem, animal ou elemento da natureza, indicando um fenômeno temporário; e o terceiro dá unidade ao conjunto, representando “o resultado da interação entre a ordem imutável do cosmos e o evento”. Exemplo: “gota de orvalho / ao sol da manhã / precioso diamante” (Bashô). No Brasil, o gênero foi praticado por autores como Guilherme de Almeida, Haroldo de Campos, Alice Ruiz e Paulo Leminski.
domingo, 12 de julho de 2009
SARAU DO LABORATÓRIO (IX)
AUTO-RETRATO
cores quentes
expressam a rotina instigante:
nos esfumaçados refratários
cores frias
viam cair a noite
minguada de estrelas
o negrume ofusca
o lume do dia
valores perdidos
diluindo-se nas ruínas
ruídos: gritos e gemidos
múltiplos e marginais
no estalar estonteante
tiroteiam túneis
transitam no tráfego
tinindo nas ruas
tísicas
trepidam os refratários
dos quadrados verticais
perturbam o repouso
dos fatigados
arrepia a espinha
num sono agitado
tinge-se de vinho tinto
uma fatia
de minha pintura
pra encobrir meus
dejetos-delitos
a fatia apodrecida
do intestino fino
que foi infectado
olho o óleo na tela
de olho na trama
que urdi em crua arte
suspiro ressentida
com minha suposta
magnitude
(Poema de Maria Alice Vasconcelos)
cores quentes
expressam a rotina instigante:
nos esfumaçados refratários
cores frias
viam cair a noite
minguada de estrelas
o negrume ofusca
o lume do dia
valores perdidos
diluindo-se nas ruínas
ruídos: gritos e gemidos
múltiplos e marginais
no estalar estonteante
tiroteiam túneis
transitam no tráfego
tinindo nas ruas
tísicas
trepidam os refratários
dos quadrados verticais
perturbam o repouso
dos fatigados
arrepia a espinha
num sono agitado
tinge-se de vinho tinto
uma fatia
de minha pintura
pra encobrir meus
dejetos-delitos
a fatia apodrecida
do intestino fino
que foi infectado
olho o óleo na tela
de olho na trama
que urdi em crua arte
suspiro ressentida
com minha suposta
magnitude
(Poema de Maria Alice Vasconcelos)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
UM ESTÍMULO À IMAGINAÇÃO E À CRIATIVIDADE
No dia 17 de julho, sexta-feira, às 19h30, o poeta Claudio Daniel dará uma aula aberta na Associação Palas Athena, intitulada Um estímulo à imaginação e à criatividade pelo trabalho poético. O evento, com entrada franca, será uma apresentação do Laboratório de Criação Poética, programa desenvolvido com o objetivo de apresentar conceitos teóricos sobre a poesia e desenvolver exercícios práticos de criação.
Local: rua Leôncio de Carvalho, 99, Paraíso, próximo à estação de metrô Brigadeiro.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
PRÓXIMA AULA, 11 DE JULHO
Caros, nossa próxima aula será no dia 11 de julho. O tema será a questão do ritmo na poesia (continuação da aula anterior). Confiram a matéria sobre o Laboratório de Criação Poética que saiu no portal IG, na seção Minha Notícia (ver na lista de links ao lado). E outra novidade: em breve, haverá aulas particulares, via Skype, com apostilas, bibliografia e acompanhamento, para quem não puder frequentar o curso aos sábados, no Ateliê do Centro.
SARAU DO LABORATÓRIO (IX)
As folhas secas
unem-se umas às outras
última caminhada
* * *
o copo de leite
uma prece nos campos
aura branca ao céu
* * *
No corpo da praia
murmura gemendo o mar
abraçando a areia
* * *
Num xale branco
A menina adormece
boneca de trapo
* * *
Homem sujo
na poeira da estrada
a espera da chuva
* * *
Chove sem parar
borboleta pousa
na cortina branca
(Haicais de Maria Fátima)
unem-se umas às outras
última caminhada
* * *
o copo de leite
uma prece nos campos
aura branca ao céu
* * *
No corpo da praia
murmura gemendo o mar
abraçando a areia
* * *
Num xale branco
A menina adormece
boneca de trapo
* * *
Homem sujo
na poeira da estrada
a espera da chuva
* * *
Chove sem parar
borboleta pousa
na cortina branca
(Haicais de Maria Fátima)
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