terça-feira, 14 de setembro de 2010

SARAU DO LABORATÓRIO (XXIII)

GOLPES DE CRIS

espectro do fogo marcando o foco
foco em tempo a vida esconsa de escombros
temo o fardo, farto e fraco de dores
cavo mudo o foco a golpes de cris

escavo os porões do sepulcro branco
ruído acuado pesa sobre meus ombros
no peito a veia cava não se estanca
carne, pele e pelo a golpes de cris

desloco-me arco no vácuo sem trégua
bato na cava de porta entreaberta
meu carma cardo alcança o licor travo
abro gole e gole a golpes de cris

acordo num cavo acorde de cravo
vibrando no aroma da cava, e cauto
creio, que a vida só curva-se à cova
corto o cardo a curtos golpes de cris.

(Poema de Maria Alice de Vasconcelos)

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