E se o tempo parasse, seria agora nesse instante, no pulsar letárgico do ponteiro do relógio, no tiquetaque antecessor a campainha tocar, precisamente às nove horas. É o banho de sol no pátio. Desaparecem os maus cheiros. Somem as baratas, os ratos. Agentes não são vistas, nem de tocaia. Mãos, com unhas coloridas, surgem segurando as grades e as mulheres, pouco a pouco, diminuem o som das suas vozes na iminência de saírem das celas. Os pensamentos que nunca param dão trégua à mente.
Durante aquele minuto de espera, a cadeia procura o silêncio. Entra num tempo zero, onde nada existe e nada acontece. A vida se reinicia justamente com o toque do sinal, recomeça exatamente no momento em que as portas das celas se abrem. Sempre assim, um dia após o outro. E neste instante único, estamos tão fora, ou tão dentro de nós mesmas, que olhamos sem nos ver, porque o que interessa é o pouco de liberdade que ainda nos resta. O banho de sol no pátio.
Pensei que era coisa da minha cabeça. Depois de um tempo aqui, nada parece real, um nevoeiro surge e distorce a visão, a porra toda fica estranha. Sempre estou em dúvida se o que sinto é real, se o que vejo é o que enxergo. Pergunto para Let se na Ala B acontece o mesmo. Ela confirma, diz que não estou louca.
Em outro instante, tudo acaba. O sinal, o corredor, e estamos na pátio. Zilma comanda ao celular. E as biscas fumam em um canto. Let me passa o cigarro. Conversa, fala um pouco do Ubaldo, o filho mais velho, a avo arranjou um jeito de mandar o menino para o colégio. Let é só alegria.
Prosa de Grazi Brum
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