Pergunto-me de onde vens, a que astro pertences. Se és o mesmo que proferiu o urro do bicho raivoso. Se és aquele que pediu clamor à deus num gozo de boca erguida. Se és quem de súbito mordeu meus vícios, arrancou os pelos eriçados da cona, estilhaçou meus tímpanos com teu estrondo de trovão.
Acordei. Ninguém ao meu lado na cama, mas não estou louca, sei que estiveste aqui. O vapor de chypre das tuas pétalas amarelas toma conta do quarto, conheço esse perfume alucinógeno que me fez proferir as juras intensas da sempre aguda palavra de amor. Exageros, sempre somos exagerados nessa hora, para no instante próximo flagelarmos o coração por medo de ver se esvaírem os gemidos meus, teus.
Agora o que resta é te procurar num desespero febril. Voltar a campos de Heliantos, mesmo nesse tempo indefinido e estéril, mesmo que ainda mês de agosto, mesmo depois de beber todo o vinho do porto. Que angustiante alquimia me vem aos lábios, a vontade de te dizer vamos foder hoje, e acabar com esse mistério de chupar ou não-chupar nossas essências, pois são elas desveladas que consolidam por final quem somos.
Não penso em mais nada e não me perdoo por essa fraqueza que me destroça as ideias. Se ao menos tivesse coragem, amarraria com cordas de aço as mandíbulas estateladas que não param de berrar na minha cabeça. “Volte a Heliantos, ele está lá, está lá”, dizem-me com suas vozes canalhas e a cada novo surto me deixam ainda mais sedenta por encontrá-lo. E passo a engolir o teu sarcasmo, essa mania tua de falhar a minha memória e confundir meus cheiros.
Sobre esse lençol de girassóis, nosso suor me acelera. As marcas dos teus dedos, dos teus dentes, nas minhas coxas, nos meus seios. O sangue embriagado de um coração faminto. Levo nas mãos uma verdadeira tempestade que me trespassa em gritos, em gritos: “eu vou à Heliantos, eu vou à Heliantos.”
Prosa de Grazi Brum
Prosa de Grazi Brum
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