Na rede de pesca, encarnado um santo oscila. Vem e vai, põe e tira o posto corpo. Na côdea de gordura se comprime outro santo - menos movente, no entanto - atordoado à novidade de um escamado rosto. E bem ali, sob esta face ainda, aérea quase e horrível, uma hérnia a um terceiro santo faz visível. Este, tísico. O último santo olha para o primeiro, e embora sejam o mesmo se envergonha. Vendo-o debater-se inutilmente pensa que mais vale a escama à carne que sempre a outra carne torna. O primeiro, em posição inversa, para a crosta a definhar-se em defunta, pragueja e mesmo detesta a doença desta parte imunda.
Mais acima um cristo-gênio, meditando com o cardume, nota a empenhada sanha que suas partes assumem. "O ódio o santo e o peixe resume". E de se aproximar um papa-breu, a bocaça uma bacante, ama as cinco mil filhas daquele humilde errante: "Com que gozo sua prole comeria este negrume!".
Poema em prosa de Caio Graco Maia
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