Não seria um milagre caso desvelasse a rota desse destino ignorado? E se na hora derradeira enxergasse com lentes precisas água, terra, fogo e ar, entenderia então que é esse tempo impiedoso o mais absoluto dos elementos. Em que trilha seguir? Em qual dos mapas Campos de Heliantos aparece? Nem na argila, na madeira, nas peles de animais ou nas rochas, é possível decifrar o desenho do teu paradeiro. Tua cartografia foi perdida e eu lançada à deriva na imensidão de um oceano, sem cordame, nem timoneiro. Um tombadilho desgovernado.
“Tragam-me uma bússola”, implorei ao atravessar a linha do equador e vi a tripulação correr em busca de um nada. Nas mãos apenas um bilhete de partida. E eu, a certeza que o porto é um pôr do sol num mar povoado de dragões e sereias, o itinerário de aves no final de um dia de solstício, a cauda de uma baleia em ziguezague à frente da proa. Meu porto é a sucessiva busca do girassol pelo seu astro.
No céu, crepúsculo vermelho, prelúdio de raios e trovões, monstros marinhos, sismo submarino, ninguém está a salvo, mas eu, equilibrista, finco meus pés no tablado, resisto ao desmoronamento das águas. Uma temporada no inferno e, por fim, tropecei na sombra do meu próprio esqueleto e fui ao chão com a mandíbula em riste.
Se não encontrar Campos de Heliantos serei condenada a minha mais cruel liberdade.
Prosa de Grazi Brum
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