segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (X)

Matéria do sonho

Chão vermelho,
Desterro,
Rastro de memória
de um sonho esquecido (querido)
Na noite infans
Terra quente
Fértil de lembranças,
Insígnias,
Já não mais existência
Traço, ausência.

(setembro de 2009)


Mamateridade

Pés de lixa
Acariciam
O sono

Cheiro de fêmea
Guardado
Para poucos
- Exala....

Leite mina
E invade a fome

Espirram células
Que farão
Parte de mim

Marcas uma alma
Que se tornará
Clara,
Achatada,
Sem lembranças.

Tocas o que se perdeu
Na memória incompreensível

Guardas no corpo
Aquilo que já fui um dia
Sem saber da existência

Banha-me,
Raivosa,
Deixa escapar

Me tornas o que és
Me entornas
Com teu corpo.

(outubro de 2009)


Restos

Gemidos lambem
a memória

Teria sido real?

Cortinas camuflam
o tempo

Passagem para onde?

Espaços estihaçados
pela impermanência

Caminho para a dissolução?

Trincas no futuro
Reformas no presente

Ponte sobre um
rio?


* * *

A lua me invade com o seu grande olho
Entra e explode meus ossos

Joga com as horas
E me acompanha por dentro

Quando fui outra
Tornei-me meia
Inteira
Dúzia
Cheia

Mingua seu jorro
Suor sobre mim

Mistura matéria à espada
Histórias que vê e esconde

Quando fui eu
Serenei-me farta
Longa
Deusa
Nova.

Irradia seu dragão
Lança chama nos fantasmas

Luz ofusca breu
E insiste em se repetir

(outubro de 2009)

(Poemas inéditos de Fabíola Ramon)