quinta-feira, 29 de março de 2012

vi-me









xaxará, o corpo de vime

xaxará, o peso da palha

xaxará, um rebento Kinlê


e a pele a pele a pele


pelando no fogo de Oyá

amarga nas ervas de Ewê

arranca as feridas, pai


ki pembê ki pembê ki pembê


as ramas viçosas

ventosas calcâneo

os ísquios soltando nos banhos


o dendê o dendê o dendê


atotô, Obaluaê


a goma do azê a areia o milho

a lisura delgada do velho menino

Kinlê na-se-cura no Arê


guerreiro nupê

Xapanã desveste

a palha a palha a palha


vestido desfeito Kinlê é rebento andando o mundo


Atotô!

(Poema de Silvia Nogueira - Ventre de silêncios velhos)














Quero o molde a tua voz na minha


Tingir de branco os teus espaços


Desatinar o curso da tua superfície


Violar tua paz indecifrável


(Poema de Marcela Cividanes - Nova Iorque, Fevereiro de 2012)

CONGRATULAÇÕES










Ela passava fugidia.
Parabéns, chefe! foi falado,
Todos olhamos e sorrimos,
Uns levantaram-se das mesas,
A conquista é merecida,
Disse outro e eu desfrutava
De um momento em que se comprazem
Sinceridade e hipocrisia.

Sinceridade e hipocrisia:
Simpatia. Muito obrigada,
Mas todos nós a construímos.
Não que somar duas fraquezas,
Vieses da visão da vida,
A crença mais não desagrava:
Pensamento e razão nos trazem
Realidade ou fantasia?

Realidade e fantasia,
Mais dois opostos conjuntados?!
Zenão, por que me desanimo?
Roubar do tirano a surpresa
Em haver a língua cuspida
Que o torturado desencrava
Com seus dentes, aos que se aprazem,
Só o sucesso sentencia.

Só o sucesso sentencia.
Nosso time é de resultado.
O alarme traiu, existimos.
Simulação (que sutileza!)
De incêndio. A brigada, a batida,
Fui ao banheiro, alguém cagava.
À vez, os que se contrafazem
Descansam da pedagogia.

(Poema de Luiz Ariston)

quinta-feira, 22 de março de 2012










Madeirismo; Afetação lenhosa: eis o que caracteriza um arque-

típico Xilólatra (— mas não o seria, também, todo “e qualquer”

Silvícola, iconódulo de Totens de Pau-Pindorama? —), a ostentar

barroquíssima sua invulgar Coleção de Gnomos de Acaju (— cujo

magnífico “aka” {also know as} é Mogno —). Mas ouçamos o im-

próprio, — todo o sempre imbuído, ou em seus empenados

Pares

de meros Canelões de Imbuia, ou em pra lá de ímpares suas

inú-

meras Tábuas de Itaúba: — aqui, quando não se tem Carvalho-

-Roble pra caramba, tem-se ao menos, e isso — como diziam os

Arcaicos — “nam é poico”, Cambará-Rosa pra caralho!

(Poema de Fabricio Slaviero)

quarta-feira, 21 de março de 2012










PERTURBANTE

Perturbante
é a insondável fisionomia
dessa pacata multidão.
Dilacerada,
vai entre miséria e grandeza,
produz sósias no coletivo,
rouba alma e destino
(obstinada negação)
do EU – estrangeiro absoluto:
desiderato em eterno desespero
de desfrute involuntário
diante do infinito.
(Poema de Celso Vegro)










GNOMO OU SER ÍGNEO


Quando o nove é atributo

do quatro submerso,

o número descrito é frio,

não há espírito ou reflexo

mas crença na natureza.


A palavra entoa e refresca

a caverna acantoada,

nove ou seis (animalesco),

onde rio e sua lei

transportam estrela assombrosa

incontáveis vezes.

Homem nascido do verde

dialoga com água e grafismo.


Sombras de pêndulo ou forquilha

atiram as pedras em ângulos;

invertem sonâmbulo nome

em venerada era,

seis ou nove,

gnomo ou ser ígneo;

espelho em jardim de espera.

(poema de Célia Abila)