quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (XV)

ESTRANGEIRA

Seu caos me transforma corpo adentro;

ouço os gritos do meu silêncio,

reinvento todos os caminhos

e sigo, inesgotavelmente,

lua que acolhe todos os ventos.

Inunda-me incandescente,

sou estrangeira em meu próprio mar

— à beira dos sentidos, de um só sentido.

(Poema de Marcela Cividanes)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

ANTOLOGIA NA GERMINA

A revista literária eletrônica Germina publicou uma mini-antologia com poemas dos alunos do Laboratório de Criação Poética. O endereço do site é http://www.germinaliteratura.com.br

domingo, 20 de dezembro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (XIV)

O SONO DAS SEMELHANÇAS

túnel filmado
por diminutivos
tem uma pessoa na minha frente
ao
beijo

Entre dois espelhos
não
Entre dois espelhos

ao
palhaço sonhando
que toca flauta
em sílabas de lua

ao
meu : amor : seu
ao

prazer em busca
de artérias do sim
no olho-oficina do não
ao
alinhamento
:

Todo mundo passa
no chão
Todos são iguais
ao
enterro
:

covil sob lençóis
a
muralha de vazia
o
horizonte de corpos
(Poema de Edson Pielechovski)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (XIII)

O CANTO ALADO

Conforme fia,
O tempo timbre
A voz velada.
A voz vasculha

O tempo todo,
Conforme falha.
O canto casto
Margeia o manto

Do som que some.
Do som que sonda,
Margeia a malva,
O canto alado.

(Poema de Alex Dias)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

SEGUNDO MÓDULO DO CURSO NA CASA DAS ROSAS

O segundo módulo do curso “Um estímulo à imaginação e à criatividade pelo trabalho poético”, ministrado por Claudio Daniel na Casa das Rosas, será nos dias 13, 20 e 27 de janeiro, das 20 às 22h, e abordará temas como o verso livre, o poema em prosa e o poema visual, com discussão teórica e dos poemas produzidos pelos alunos ao longo do curso. Entre os autores abordados nesse módulo estão Walt Whitman (Folhas da Relva), Arthur Rimbaud (Uma Estação no Inferno), Lautréamont (Os Cantos de Maldoror) e Mallarmé (Um Lance de Dados). Não é obrigatório ter cursado o primeiro módulo do curso para participar dessa atividade.

SARAU DO LABORATÓRIO (XII)

Sussurra a ausência, embora feito de tinta e rabisco. É mudo, turvo, sozinho: profundo ocaso, bailarino. Esbarra nas sandálias e rodopia. Cai. Esparrama tão afiadas unhas no chão de minha alma, sobre o esmalte derrubado, desenhando um poema curto e improvisado:

O mundo

debruçou-se

sobre

mim.

(Poema de Marana Borges)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

GALERIA: JACQUES PRÉVERT


BIBLIOGRAFIA DO CURSO NA CASA DAS ROSAS

BARBOSA, João Alexandre. Alguma crítica. São Paulo, Ateliê Editorial, 2002.

CAMPOS, Augusto de. Verso Reverso Controverso. São Paulo, ed. Perspectiva, 1978.

CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. São Paulo, ed. Cultrix, 1978.

MAIAKOVSKI, Vladimir. Como escrever versos?, in A Poética de Maiakovski, de Boris Schnaiderman. São Paulo, ed. Perspectiva, coleção Debates, 1971.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004.

PIGNATARI, Décio. Comunicação Poética. São Paulo, Editora Morais, 1981.

POE, Edgar Allan. Filosofia da Composição, in Ficção completa, poesia e ensaios. São Paulo, ed. Nova Aguilar, 1986.

POUND, Ezra. ABC da Literatura. São Paulo, ed. Cultrix, 1978.

POUND, Ezra. Arte da Poesia. São Paulo, ed. Cultrix, 1995.

WILSON, Edmund. O Castelo de Axel. São Paulo, ed. Cultrix, 1993.

GALERIA: ROBERT DESNOS


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

UM ESTÍMULO À IMAGINAÇÃO E À CRIATIVIDADE PELO TRABALHO POÉTICO


O Laboratório de Criação Poética é um programa elaborado com o objetivo de apresentar conceitos teóricos sobre a poesia e desenvolver exercícios práticos de criação, com a aplicação de conceitos de Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Ezra Pound, Vladimir Maiakovski, Haroldo de Campos e Paulo Leminski, entre outros autores. O curso, que pretende estimular os alunos a pensarem a poesia de maneira crítica e aprofundada, é dividido em vários módulos, em sequência continuada, e inclui bibliografia e apostilas, com apoio da internet para a divulgação de avisos e resumos das aulas, na página http://labcripoe.blogspot.com/. Um módulo básico do curso, dividido em três aulas, será realizado nos dias 02, 09 e 16 de dezembro, das 19 às 22h, na Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, localizada na Avenida Paulista, n. 37.

sábado, 28 de novembro de 2009

BIBLIOGRAFIA PARA O CURSO DE NEOBARROCO

ÁVILA, Affonso: O lúdico e as projeções do mundo barroco. São Paulo: ed. Perspectiva, 1994.

BRACHO, Coral. Rastros de Luz. São Paulo: Olavobrás, 2004.

BUENO, Wilson. Mar Paraguayo. São Paulo: Iluminuras, 1992.

CAMPOS, Haroldo de. A operação do texto. São Paulo: Perspectiva, 1976.

CHIAMPI, Irlemar. Barroco e modernidade. São Paulo: Perspectiva, 1998.

DANIEL, Claudio. Jardim de Camaleões, A Poesia Neobarroca na América Latina. São Paulo: Iluminuras, 2004.

HATHERLY, Ana. A experiência do prodígio — bases teóricas e antologia de textos-visuais portugueses dos séculos XVII e XVIII. Lisboa. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1983.

HATHERLY, Ana. A casa das musas. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.

HOCKE, Gustav René. Maneirismo: o mundo como labirinto. São Paulo: Perspectiva, 2005.

JIMÉNEZ, Reynaldo. SOSA, Victor. Shakti e Outros Poemas. São Paulo: Lumme Editor, 2006.

LIMA, Lezama. A Expressão Americana. São Paulo: Brasiliense, 1988.

PAZ, Octavio. Sóror Juana Inés de la Cruz --- As Armadilhas da Fé. São Paulo: Mandarim, 1982.

PERLONGHER, Néstor. Caribe Transplatino. São Paulo: Iluminuras, 1990.

SARDUY, Severo. Escrito sobre um Corpo. São Paulo: Perspectiva, 1979.

SOSA, Victor. Sunyata. São Paulo: Lumme Editor, 2006.

SPINA, Segismundo: Presença da literatura Portuguesa I (Era medieval). São Paulo: Difusão européia do livro, 1974.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

GALERIA: PAUL ÉLUARD




CURSO NA CASA DAS ROSAS EM DEZEMBRO

O Laboratório de Criação Poética realizará um curso na Casa das Rosas nos dias 02, 09 e 16 de dezembro, das 19 às 22h. Serão abordadas questões teóricas sobre a poesia, com exercícios de criação poética. Haverá bibliografia e apostilas para os alunos. As inscrições podem ser feitas no local, Avenida Paulista, n. 37, ou pelo tel. (11) 3285-6986 ou 3288-9447.

GALERIA: BENJAMIN PÉRET


terça-feira, 17 de novembro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (XI)

CIRANDA-ESCARAVELHO

I

Saúva noite
eriçada de estrelas
em sua cíclope íris diadorim
alveja arqueira o que for
desembocadura de nós
no rasgar das máscaras em destilação.

Em instrumento de sopro
ela me sola e improvisa
verbena,verbena,verbena
tua turmalina
ora verde
ora negra

espessa e acre
ressoa em mergulhos
mantra solares
revoada de cascatas
ao arpejo do bandolim
que me escava

II

Teu corpo
lona verde ainda
origami de minha malícia
vou e volto
eterno retorno
deste agora
na colisão dos sons
para cada lado
cores dos sábados em fuga
Dança perdida que emerge
ao beijo deste redemoinho

Esferas que uma a uma
do bilhar de olhares
minha e tua
candeeiro de mil igrejas
adentram pelos cantos da memória

(Poema de Victor Brum Calaça)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (X)

Matéria do sonho

Chão vermelho,
Desterro,
Rastro de memória
de um sonho esquecido (querido)
Na noite infans
Terra quente
Fértil de lembranças,
Insígnias,
Já não mais existência
Traço, ausência.

(setembro de 2009)


Mamateridade

Pés de lixa
Acariciam
O sono

Cheiro de fêmea
Guardado
Para poucos
- Exala....

Leite mina
E invade a fome

Espirram células
Que farão
Parte de mim

Marcas uma alma
Que se tornará
Clara,
Achatada,
Sem lembranças.

Tocas o que se perdeu
Na memória incompreensível

Guardas no corpo
Aquilo que já fui um dia
Sem saber da existência

Banha-me,
Raivosa,
Deixa escapar

Me tornas o que és
Me entornas
Com teu corpo.

(outubro de 2009)


Restos

Gemidos lambem
a memória

Teria sido real?

Cortinas camuflam
o tempo

Passagem para onde?

Espaços estihaçados
pela impermanência

Caminho para a dissolução?

Trincas no futuro
Reformas no presente

Ponte sobre um
rio?


* * *

A lua me invade com o seu grande olho
Entra e explode meus ossos

Joga com as horas
E me acompanha por dentro

Quando fui outra
Tornei-me meia
Inteira
Dúzia
Cheia

Mingua seu jorro
Suor sobre mim

Mistura matéria à espada
Histórias que vê e esconde

Quando fui eu
Serenei-me farta
Longa
Deusa
Nova.

Irradia seu dragão
Lança chama nos fantasmas

Luz ofusca breu
E insiste em se repetir

(outubro de 2009)

(Poemas inéditos de Fabíola Ramon)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

CURSO EM RECIFE

O curso do Laboratório de Criação Poética, ministrado por Claudio Daniel, será realizado na cidade de Recife nos dias 04 (domingo) e 05 (segunda-feira) de outubro, das 10 às 12h, no Palco das Idéias, durante a Bienal Internacional do Livro. Informações na página http://www.bienalpernambuco.com/

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PRÓXIMA AULA, 26 DE SETEMBRO

A próxima aula do Laboratório de Criação Poética acontecerá no dia 26 de setembro, às 14h30, quando iremos ler e discutir os poemas produzidos pelos alunos. A proposta do programa é conciliar a reflexão teórica com a prática criativa e a divulgação impressa ou eletrônica dos poemas elaborados pelos participantes do curso. Uma pequena antologia poética dos alunos do Laboratório já foi publicada no site Cronópios, e pode ser acessada na página http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4203

GALERIA: ARNALDO ANTUNES


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PRÓXIMA AULA: 19 DE SETEMBRO

Caros, na próxima aula converaremos a respeito do Plano-piloto da poesia concreta. Partindo do princípio de que estava encerrado o ciclo histórico do verso, os poetas concretos defenderam uma nova forma de organização poética, baseada na espacialização das palavras, na fragmentação do discurso sintático-linear, no uso de cores e diferentes tipologias de letras, na construção neológica, na incorporação de elementos visuais e sonoros e na busca de novos suportes além do livro, como o poema-cartaz, o poema-objeto, o móbile, o CD, o holograma ou o espaço digital. Nesta aula, falaremos sobre a contribuição de Mallarmé (Um lance de dados), James Joyce (Finnegans Wake), Cummings (poemas "tipográficos") e Ezra Pound (Os Cantos) para o desenvolvimento da poesia concreta; no dia 26 de setembro, abordaremos a Caixa Preta e os Poemóbiles de Augusto de Campos, no â mago do ô mega de Haroldo de Campos, o Cristo-Dólar e Beba Coca-Cola, de Décio Pignatari, entre outras obras representativas do movimento.

Bibliografia:

AGUILAR, Gonzalo. Poesia concreta brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista. São Paulo: Edusp, 2005.

BANDEIRA, João, e BARROS, Lenora de. Poesia Concreta: O Projeto Verbivocovisual. São Paulo: Artemeios, 2008.

CAMPOS, Augusto e Haroldo de e PIGNATARI, Décio. Teoria da Poesia Concreta. São Paulo: Duas Cidades, 1975.

GUIMARÃES, Júlio Castañon, e SUSSEKIND, Flora (org.). Sobre Augusto de Campos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004.

SIMON, Iumna Maria, e DANTAS, Vinícius. Poesia concreta. São Paulo: Nova Cultural, 1982.

Na internet

Homenagem aos 50 Anos da Poesia Concreta. In Zunái, Revista de Poesia e Debates n. 14, janeiro de 2008, http://www.revistazunai.com/materias_especiais/50_anos_poesia_concreta.htm

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

GALERIA: PAUL CELAN


PRÓXIMA AULA: 12 DE SETEMBRO

Caros, na próxima aula, dia 12 de setembro, vamos conversar sobre os Manifestos do Surrealismo, de André Breton, e encerraremos o tópico com a criação de um poema coletivo, conhecido como “cadáver esquisito”. Nas aulas seguintes, conversaremos sobre a Poesia Concreta, e em especial sobre o Poetamenos, Poemóbiles e a Caixa Preta, de Augusto de Campos, encerrando o segundo módulo do curso. Antes de iniciarmos o módulo seguinte, sobre o tema O Poema Moderno, faremos uma sessão de oficina literária, com a leitura e discussão dos poemas dos alunos.

sábado, 15 de agosto de 2009

GALERIA: PAULO LEMINSKI


SARAU DO LABORATÓRIO (IX)

MOSAICA POROROCA

Ele Mamute tornado sequóia
Ela aurora tormenta pulsar
Ambos quasar condor delta mar
Cada um pedaço de nimbos que raiam em bóia

Ele bisão que restinga na estratosfera
Ela naja turfa quando magma
Ambos plâncton tempestade por nada
Cada um caatinga sua luta na serra

Ele eclipse hipopótamo que pisa em folha de erva
Ela ouriço que seriguela suas pérolas.
Ambos península onde fluem aguas diversas
Cada um ístmo de sua própria quimera

(Poema de de Victor Brum Calaça)

domingo, 9 de agosto de 2009

GALERIA: EZRA POUND


PRÓXIMAS AULAS

Caros, na próxima aula, no dia 15 de agosto, faremos a leitura e discussão dos poemas desenvolvidos por vocês. Nas aulas seguintes, concluiremos o segundo módulo, dedicado à crise do verso clássico e à busca de novas estratégias de criação, abordando as experiências das vanguardas poéticas das décadas de 1920 e 1950, com ênfase nas palavras em liberdade do futurismo italiano, na linguagem zaúm dos cubo-futuristas russos, nos experimentos de Kurt Schwitters, na escrita automática do surrealismo e na síntese operada pela Poesia Concreta. O terceiro módulo, que começaremos em setembro, tratará dos poemas capitais da modernidade, como Os Cantos de Ezra Pound. Segue abaixo uma pequena bibliografia sobre a questão das vanguardas:

BIBLIOGRAFIA:

CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1976.

CAMPOS, Haroldo de. A operação do texto. São Paulo: Perspectiva, 1976.

CAMPOS, Haroldo de. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1976.

ECO, Umberto. Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

PERLOFF, Marjorie. O momento futurista. São Paulo: Edusp, 1993.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

PRÓXIMA AULA, 08 DE AGOSTO

Caros, a próxima aula será no dia 08 de agosto, sábado, das 14h30 às 16h30, em novo endereço: rua Indiana, 238, Brooklin Novo, próxima à Vereador José Diniz. Nessa aula vamos retomar a questão do ritmo, além da leitura e discussão dos poemas dos alunos.

sábado, 18 de julho de 2009

GALERIA: MATSUO BASHÔ


POESIA DOS QUATRO CANTOS: JAPÃO

chuva de primavera
a água escorre do teto
pelo ninho de vespas

(Bashô)

do orvalho
nunca esqueça
o branco gosto solitário

(Bashô)

pobre sim pobre pobre pobre
a mais pobre das províncias
mas sinta esta brisa

(Issa)

nuvem de mosquito
atrás dela
quioto

(Issa)


Traduções: Paulo Leminski



no pântano de neve
nada se move
na manhã de neve

(Chiyo-ni)

Tradução: Alice Ruiz


Haicai: poema composto de três versos, com métrica de 5-7-5 sílabas, sem título nem rimas, surgido no Japão medieval. Além da brevidade, o haicai deve ter uma referência à estação do ano em que o poema foi escrito — o kigo —, que se expressa em versos como: “lua de outono”, “vento de primavera”, “o caqui maduro”. Essa forma poética, derivada do tanka, contém toda uma visão de mundo: o primeiro verso, com o kigo, indica uma circunstância “eterna, absoluta, cósmica, não-humana” (Paulo Leminski); o segundo traz uma ação súbita de um homem, animal ou elemento da natureza, indicando um fenômeno temporário; e o terceiro dá unidade ao conjunto, representando “o resultado da interação entre a ordem imutável do cosmos e o evento”. Exemplo: “gota de orvalho / ao sol da manhã / precioso diamante” (Bashô). No Brasil, o gênero foi praticado por autores como Guilherme de Almeida, Haroldo de Campos, Alice Ruiz e Paulo Leminski.

domingo, 12 de julho de 2009

GALERIA: HAN SHAN


SARAU DO LABORATÓRIO (IX)

AUTO-RETRATO

cores quentes
expressam a rotina instigante:
nos esfumaçados refratários
cores frias
viam cair a noite
minguada de estrelas

o negrume ofusca
o lume do dia
valores perdidos
diluindo-se nas ruínas
ruídos: gritos e gemidos
múltiplos e marginais
no estalar estonteante
tiroteiam túneis
transitam no tráfego
tinindo nas ruas
tísicas

trepidam os refratários
dos quadrados verticais
perturbam o repouso
dos fatigados
arrepia a espinha
num sono agitado

tinge-se de vinho tinto
uma fatia
de minha pintura
pra encobrir meus
dejetos-delitos
a fatia apodrecida
do intestino fino
que foi infectado

olho o óleo na tela
de olho na trama
que urdi em crua arte
suspiro ressentida
com minha suposta
magnitude

(Poema de Maria Alice Vasconcelos)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

UM ESTÍMULO À IMAGINAÇÃO E À CRIATIVIDADE

No dia 17 de julho, sexta-feira, às 19h30, o poeta Claudio Daniel dará uma aula aberta na Associação Palas Athena, intitulada Um estímulo à imaginação e à criatividade pelo trabalho poético. O evento, com entrada franca, será uma apresentação do Laboratório de Criação Poética, programa desenvolvido com o objetivo de apresentar conceitos teóricos sobre a poesia e desenvolver exercícios práticos de criação.

Local: rua Leôncio de Carvalho, 99, Paraíso, próximo à estação de metrô Brigadeiro.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

GALERIA: RAINER MARIA RILKE


PRÓXIMA AULA, 11 DE JULHO

Caros, nossa próxima aula será no dia 11 de julho. O tema será a questão do ritmo na poesia (continuação da aula anterior). Confiram a matéria sobre o Laboratório de Criação Poética que saiu no portal IG, na seção Minha Notícia (ver na lista de links ao lado). E outra novidade: em breve, haverá aulas particulares, via Skype, com apostilas, bibliografia e acompanhamento, para quem não puder frequentar o curso aos sábados, no Ateliê do Centro.

GALERIA: CÉSAR VALLEJO


SARAU DO LABORATÓRIO (IX)

As folhas secas
unem-se umas às outras
última caminhada

* * *
o copo de leite
uma prece nos campos
aura branca ao céu

* * *
No corpo da praia
murmura gemendo o mar
abraçando a areia

* * *
Num xale branco
A menina adormece
boneca de trapo

* * *
Homem sujo
na poeira da estrada
a espera da chuva

* * *
Chove sem parar
borboleta pousa
na cortina branca

(Haicais de Maria Fátima)

sábado, 27 de junho de 2009

GALERIA: HAROLDO DE CAMPOS


SOBRE O RITMO NA POESIA (I)

O que é ritmo?

Segundo o Dicionário de Termos Literários, de Massaud Moisés, essa palavra vem do grego rhythmós, movimento regrado e medido, cognato de rhein, que significa fluir.

Diz Massaud Moisés: “Dos tópicos mais controvertidos em matéria de estética, o ritmo designava na origem o fluxo dos rios ou o movimento das vagas oceânicas. Ligava-se portanto à Natureza, e como tal permitia que se lhe atribuíssem ‘raízes biológicas, pois quase todos os processos vitais possuem sentido rítmico. A vida do homem governa-se por meio dos ritmos cardíacos, hepáticos, cerebrais etc. Existem também ritmos na formação do mundo mineral e na manifestação dos fenômenos da chuva, dos eclipses etc. (...) O ritmo cósmico e o que o homem percebe em si, em sua existência somática, reúne-se com o que o criou no trabalho. Karl Burcher situou no trabalho a origem do ritmo humano.”

Dessa primeira definição de Massaud Moisés, podemos deduzir os seguintes sentidos para a palavra ritmo:

1) é um processo que existe na natureza, no homem e em artes como a poesia;
2) esse processo é cíclico, ou seja, acontece de forma regular, segundo determinadas leis, naturais ou não;
3) o ritmo obedece a uma estrutura, baseada no movimento e na variação de elementos;

Partindo do princípio pitagórico de que “Nada há que não seja determinado pelo número”, Aristóteles, na sua Retórica, afirmará o seguinte sobre o ritmo:

“O número, quando aplicado à forma do estilo, é o ritmo, do qual os metros são divisões”. Aristóteles, porém, advertia também que “o discurso deve possuir ritmo, não metro”.

Há numerosas outras definições, como a de Othon Riemann, que diz:

“o ritmo, musical ou poético, é constituído pelo retorno, a intervalos iguais, de um som (nota de música ou sílaba) mais forte que os outros”.

Méderic Dufour diz que

“o ritmo é o que nos impressiona quer a vista, quer o ouvido, pela sua repetição freqüente, com intervalos regulares”.

Stauffer diz:

“recorrência mais ou menos regular de qualquer padrão detectável no tempo”.

Zillman diz:

“a regularidade da recorrência do tempo”.

E Waltz escreve:

“sucessão modulada de sons verbais eufônicos, escolhidos e organizados de molde a oferecer aos ouvidos e ao espírito o deleite de uma sensação musical, acomodada ao sentido das palavras”.

Massaud Moisés, a partir dessas definições, afirma que “o ritmo se caracteriza pelo tempo, pelo movimento e pela continuidade, que produzem o chamado prazer estético”.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

GALERIA: ALLEN GINSBERG


AULA DE 27 DE JUNHO DE 2009

Caros, na próxima aula, no sábado, dia 27 de junho, vamos discutir a questão do ritmo na poesia. Para que vocês comecem a pensar no assunto, cito abaixo uma definição dada por Décio Pignatari, no livro Comunicação Poética:
“Ritmo é uma sucessão ou agrupamento de acentos fracos e fortes, longos e breves. Esses acentos não são absolutos, mas relativos e relacionais — variam de um caso para outro. O ritmo tece uma teia de coesão. O ritmo pressupõe um jogo de fundo e figura. No caso do som, o fundo é o silêncio. O contra-acento é a pausa. (...) O silêncio é parte integrante da música e da poesia.”
(PIGNATARI, Décio. Comunicação Poética. São Paulo, Editora Morais, 1981)

sábado, 20 de junho de 2009

GALERIA: DANTE ALIGHERI


SARAU DO LABORATÓRIO (VIII)


DOIS POEMAS DE LUIZ ARISTON

TENTANDO JOÃO CABRAL
a Jussara Silveira


1. As gentes têm por invisível
comum, senão seu próprio vício,

haver, suas próprias, as artes
ou ser o próprio malas-artes,

que mesmo o canto, por exemplo,
escultura, vem de entre os dentes,

ao ouvido, é bem mais frágil
que o invisível vidro ao tato.

2. O sem-porquê do compromisso
relativo ao valor do ofício

mostra-se mais, mostra-se noite,
quando um suposto ouvinte afoito,

diante do quebra-cabeça,
elege, feito cabra-cega,

em meio a seus pedaços todos,
o menos importante: o autógrafo.

3. Até se expor (e dar nas vistas?)
autografar-se alienígena,

recanto de um canto em um outro,
transplante de um obscuro órgão

de si para si, mas via alguém,
quesito e réplica através.

Anzol em peixe, aquele canto;
este, uma espinha na garganta.


* * *

se for aquilo que se foi que volta
ao paraíso o pecador que torna
em torno desse próprio posto à prova
sentir o sabor de outra boca à boca
é outro o velho gosto que se arrota
sentir o sabor de outra boca à boca
em torno desse próprio posto à prova
ao paraíso o pecador que torna
se for aquilo que se foi que volta

quinta-feira, 18 de junho de 2009

GALERIA: PAUL ÉLUARD


SARAU DO LABORATÓRIO (VII)


LA TIERRA SIN MADRE
(fragmento inicial)

resta o pó


seu olhar negro
semblante
sem brilho


era com-


-o cimento
pesa o
conhecimento
pesava


agora é como
cão sem peixes
signo inexist
ente ao mar


e mais outros cem peixes ao fundo
multiplicando-se para além do pó


(...)


semblante negro
cem peixes
sem madre


bem dito o pó da notícia
inda vem a perícia

benditas
pérolas,
oro só:
hosana!


(Fragmentos do poema La tierra sin madre, de Sílvia Nogueira)

GALERIA: ANDRÉ BRETON


quinta-feira, 11 de junho de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (VI)

Não me olhes com olhos de ontem. Não será possível nenhuma ponte entre nós. Olhe-me hoje, façamos um vocabulário do sol claro na janela, da noite que passamos solitários e que sustenta esta vontade de olhar.


* * *

Um salto por vez. Nunca o fatal.
Vivo para o preparo de uma refeição que nunca será comungada.
A eucaristia final é terrível, não pode ser praticada.


* * *

Festejar seus mortos: tarefa que só os vivos podem fazer. Morte e vida, nada mais que revoluções internas.


(Três poemas de Angela Castelo Branco, do livro Orações.)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

PRÓXIMA AULA, 20 DE JUNHO

Caros, na última aula, nós conversamos sobre O Lance de Dados e o Livro inacabado, de Mallarmé. No próximo dia 13, não haverá aula, pois estarei no Rio de Janeiro, participando do evento Artimanhas Poéticas. Voltaremos a nos encontrar no dia 20, para fazermos a leitura e discussão dos poemas produzidos por vocês, que no segundo semestre serão publicados numa plaquete produzida pelo próprio Ateliê do Centro. E vamos organizar também um recital, para o lançamento, por isso, mãos à obra!!!

terça-feira, 2 de junho de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (V)

BALLAD OF SAD CAFÉ

I

Eros e Tanatos.
Dizem que dançam
fox-trot desde que
o sol deitou sobre
o mar de Mykonos:
Fiat lux.

Então, querido, antes
que chicotes floresçam
na palma das mãos
e a mágoa apodreça o ar
Antes ainda da pena,
do desgosto, das línguas de fogo
antes que restem somente
assobios, olhares de chumbo
Que os vagalhões se
suicidem na areia.

II

Não. Beijo, mordo
nos flancos, injeto
primaveras no peito:
E.V.
O músculo entoará
cânticos - lírios -
mezzo-soprano.
Sabe: não embarco
naquele trem.

III

Os amores mais brilhantes
apagam. O sol de maio
impõe suplícios. Torturas,
amarras, ataduras.
Cicatrizes jamais lacradas:
Xanax.

IV

Beijo.
O universo perece. Sei.
Escravizo espíritos:
Assim.

(Poema de Carol Marossi)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (IV)

ARGILA

Amassa a fábula
a água clara
sujas as mãos
os dedos molhados
em signos
o quebra-cabeça
ensina

A massa, a estátua
no fluxo a textura
repassa a figura
o formato charada
gratifica ações
brincam os
enigmas

A massa na graça
a ideologia na peça
cria a modelagem
alegrias, emblemas
a lua vigia
a estrela na lida
o sol se põe
elucida

(Poema de Laura Helena Sodré Ribeiro Torres)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

QUARTA AULA, 30 DE MAIO

Caros, como na última aula fizemos a leitura e avaliação dos poemas dos alunos, a apresentação sobre Mallarmé será feita amanhã, dia 30 de maio. Nas aulas seguintes, conversaremos sobre as primeiras vanguardas do século XX, com ênfase nas formas que surgem em resposta à crise do verso, como as “palavras em liberdade”, de Marinetti, a escrita automática dos surrealistas, a linguagem zaúm de Khlénbikov, os recursos sonoros dadaístas e os caligramas de Apollinaire, que depois foram sintetizados, na década de 1950, na Poesia Concreta. A bibliografia será publicada aqui na próxima semana. Após a conclusão desse módulo, iniciaremos outro, em julho, sobre o Poema Moderno. Em cada aula, falaremos sobre textos essenciais do século XX, como a Terra Devastada, de T. S. Eliot, Os Cantos, de Ezra Pound, A Máquina do Mundo, de Drummond, entre outros. E continuaremos com os exercícios de prática poética, com a leitura e discussão dos trabalhos dos alunos, que serão publicados neste blog e mais tarde numa antologia e plaquetes. Até amanhã, e leiam Mallarmé antes de dormir.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (III)

Camaleônica triste

As coisas em que eu poderia me transformar
são feias.

*
Vocação

Ouvir tua respiração
me odiando na sala
me convoca de amor
profundamente.


*
Lua de fel

Os espaços que eu completo com prazer
saem e
chegam maiores.


*
Time of Death Certainty Principle

Nosso amor morreu dia quatro
do quatro
às quatrorze e quarenta.
Doze horas atrás.

*
Pra mim

Pra mim,
me amar
é a tua fraqueza.


*
Quero os teus cabelos

Para mandar
cortar.

(Poemas de Élida Lima)

GALERIA: GERTRUDE STEIN


quarta-feira, 27 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (II)

CORPULAÇÃO (ESCRITURA DA CARNE)


Dentro de mim,
um, meio, desassossego sugado na areia que move e leva e traz.

Uivos-rouge abafados na carne

Penso alto, falo baixo.
Captadas as palavras perdidas na lixeira dos PCs; formam jogos, viram ouro.

Suspende corpo crepito; passos certos de uma dança sem intenção.
Esfrega dorso em seu oposto
Pêlo eriçado pelo desconhecido.

Se hospeda na invasão.
Deixa-se ir inteira, para além do pêlo, para além da carne.
Finca no azeite do bicho.

Jogo de palavras; lanço uma, duas, três..... Formam frases inteiras, mas nada muda quando faladas. Escritas, portam-se com outra intenção (Atention!).

Metamorfoseiam-se de escamas reflexas.
Cooptados, viram presas da imensidade.
(mais que frêmito)

única união ultrapassa cadacorpo (à corps perdu), cada qual, soprando o instinto natural de cada coisa: razão da ex-sistência?

Levanto-me para ver o que não escrevo.
- O que não vejo?
Atrás do vão, trincas de destino numa vastidão,
Rabiscos tatuados para fazer tua noite.

(já não mais bichos; balbuciam palavras)

Agora, mais que o nada: um sopro.



(Poema de Fabiola Ramon)

GALERIA: GUILLAUME APOLLINAIRE

terça-feira, 26 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (I)

1.
caminhando uma vez encontrei um cheiro bem doce, um silêncio quente de melão. O som de cortar, rachar um melão é bem reconhecível, como um uivo ou gemido. {Aluar

a pele tem tons esverdeados de melão, no verão todo a noite a pele é bem doce. o som da terra dormindo. {uma lua
tão aberta me lembro este dia. uma mancha linda e desfocada, leite de tigre. dissolvida no breu sem constelação alguma,
{aroma um entre um instante e outro


________________________________________________________


2.
o gosto de um cogumelo é um gosto de lama, madeira e chuva. envergonhado ou simplesmente fugidio, se revela no vapor.
Imagino se depois de uma chuva-
murmurar de verão a floresta cheira a sopa.
{claro que não
(uma vez vi um gato subir uma árvore e cair dum galho velho e quebrado, sem se machucar, a língua lilás lambeu a alma que tentou escapar-lhe pelo nariz.)


(Poemas de Bruno Trochmann)

domingo, 24 de maio de 2009

POESIA DOS QUATRO CANTOS: COREIA

O Sijô é uma forma poética de origem coreana, composta de três versos que contam 45 sílabas. Em sua origem, o sijô era um poema cantado; com o tempo, porém, passou a ser uma composição escrita. Entre os séculos XIII e XIV, o gênero chegou ao seu apogeu, com autores como Yi Jo-nyón e Kir Je, mas foi praticado até meados do século XIX. Sua temática, em geral, está relacionada com a ideologia confuciana, mas também há peças líricas e religiosas. Estima-se que cerca de 3.500 sijôs tenham chegado à era moderna, em várias compilações. No Brasil, Alberto Marsicano e Yun Jung Im traduziram vários sijôs, reunidos na antologia Sijô, poesiacanto coreana clássica (São Paulo: Iluminuras, 1994). Confiram abaixo alguns poemas:



A cordilheira
longa longa
As águas
longe longe

Saudades
de meus pais
tanta tanta
funda funda

De algum lugar ouço uma garça
voar sozinha
em prantos prantos

(Poema de Yun Són-do, 1587-1671)

* * *

Se é negro
dizem branco
Se é branco
dizem negro

Negro
ou branco
quem afinal
concorda?

Fecho os olhos, tapo os ouvidos
e não quero mais
saber disso!

(Poema de Kim Su-jang, 1690-?)


* * *

Um cego carrega
outro nas costas
Pés sem meia
tamancos sem salto

Juntos atravessam
a ponte de tronco podre

Um Buda de pedra sob a ponte
dá uma bela
gargalhada

(Autor anônimo)


Traduções: Yun Jung Im e Alberto Marsicano

GALERIA: STÉPHANE MALLARMÉ (II)


quinta-feira, 21 de maio de 2009

TERCEIRA AULA, 23 DE MAIO

Caros, na terceira aula do Laboratório de Criação Poética, vamos concluir o tópico sobre o poema em prosa, com a leitura e discussão do Igitur, de Stéphane Mallarmé. Em seguida, vamos conversar sobre o pensamento estético do autor francês, e faremos a leitura do soneto em ix (“Puras unhas no alto ar dedicando seus ônix”, na tradução de Augusto de Campos), comentado por Octavio Paz no ensaio Stéphane Mallarmé: o soneto em ix (incluído no livro Signos em rotação). Por fim, falaremos sobre o poema espacial Um lance de dados e o Livro inacabado do poeta francês, pontos de partida da poesia de vanguarda do século XX. É recomendável que vocês leiam, além do texto de Octavio Paz, o primeiro ensaio do livro A arte no horizonte do provável, de Haroldo de Campos. Confiram abaixo a bibliografia da aula:


CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1976.

MALLARMÉ, Stéphane. Mallarmé. Trad.: Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari. São Paulo, Perspectiva, 1980.

MALLARMÉ, Stéphane. Igitur ou A loucura de Elbehnon. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MALLARMÉ, Stéphane. Poemas. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

MALLARMÉ, Stéphane. Brinde fúnebre e outros poemas. Trad.: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.

PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1996.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

ARTIMANHAS POÉTICAS





O festival literário Artimanhas Poéticas será realizado nos dias 12 e 13 de junho, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria do poeta Claudio Daniel. O evento, que contará com a participação de críticos literários, poetas jovens e consagrados e editores de revistas, incluirá palestras, debates, recitais, lançamentos, performances musicais e de poesia sonora. Confiram a programação completa no site http://artimamhas.blogspot.com/ Este evento faz parte do programa de atividades do Laboratório de Criação Poética, que além de cursos e palestras realiza também eventos e consultoria de projetos na área da literatura (livros, revistas, sites, blogues etc.) O segundo evento da série Artimanhas Poéticas acontecerá em novembro, na cidade de Adamantina, em 2010 será em São Paulo e poderá ser realizado em outras cidades que tenham instituições interessadas em apoiar sua organização.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CURSO VIA INTERNET

Caros, no dia 02 de junho, terça-feira, das 20 às 22h, começará um novo curso do Laboratório de Criação Poética, que acontecerá on line, via Skype. O conteúdo será o mesmo das aulas no Ateliê do Centro, com a vantagem de que poderão participar interessados que morem em outras cidades (é preciso apenas ter um computador, acesso à internet e estar cadastrado no Skype). A mensalidade é de R$ 30,00. Quem quiser participar pode enviar um e-mail para mim, claudio.dan@gmail.com.

sábado, 16 de maio de 2009

GALERIA: LAUTRÉAMONT


DO LIVRO OS CANTOS DE MALDOROR

Há horas na vida em que o homem de cabeleira piolhenta lança o olhar fixo, miradas ferozes para as membranas verdes do espaço; pois lhe parece ouvir, a sua frente, as irônicas vaias de um fantasma. Cambaleia e baixa a cabeça; isso que ouviu é a voz da consciência. Então, precipita-se para fora da casa, com a rapidez de um louco, toma a primeira direção que se oferece a seu estupor, e devora as planícies rugosas da campina. Mas o fantasma amarelo não o perde de vista, e o persegue com igual velocidade. Por vezes, em uma noite de tempestade, enquanto legiões de polvos alados, semelhantes de longe a corvos, planam acima das nuvens, dirigindo-se com um vôo direto rumo às cidades dos humanos, com a missão de adverti-los para que mudem de conduta, o pedregulho, de olhar sombrio, vê dois seres passarem à luz do relâmpago.”

(Fragmento de Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

GALERIA: EDGAR ALLAN POE


SEGUNDA AULA, 16 DE MAIO

Caros, na segunda aula do Laboratório de Criação Poética, vamos retomar a discussão do poema em prosa. Faremos a leitura e discussão de alguns trechos de Uma temporada no inferno, de Rimbaud: Igitur, de Mallarmé, e Os cantos de Maldoror, de Lautréamont. Recordaremos ainda alguns conceitos de Edgar Allan Poe, expostos no ensaio Princípio poético (como a noção de que poesia é a “construção precisa do impreciso”, e a idéia de que a imaginação é combinatória). Na segunda metade da aula, faremos a leitura e discussão dos poemas apresentados por vocês, e concluiremos os tópicos “verso livre” e “poema em prosa”. Na próxima semana, iniciaremos um novo tópico, o poema espacial Um lance de dados, de Mallarmé, ponto de partida para diversas experiências de vanguarda realizadas no século XX, como os Caligramas de Apollinaire, a Poesia Concreta e a Poesia Visual.

BIBLIOGRAFIA DA AULA 2

LAUTRÉAMONT: Obra completa (Os cantos de Maldoror, Poesias, Cartas). Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997.

MALLARMÉ, Stéphane. Igitur ou A loucura de Elbehnon. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MOISÉS, Leyla Perrone. Lautréamont. Vulgo Ducasse, aliás Maldoror. São Paulo: Brasiliense, 1984.

POE, Edgar Allan. Poemas e ensaios. Trad.: Oscar Mendes. São Paulo: Globo, 1999.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Uma temporada no inferno & Iluminações. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Rimbaud livre. Trad.: Augusto de Campos. São Paulo: Perspectiva, 1992.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

GALERIA: WALT WHITMAN


UM POEMA DE WALT WHITMAN

CERTA VEZ NUMA CIDADE

Certa vez eu passei
por uma cidade bem populosa,
guardando no meu cérebro impressões
para futuro emprego,
com suas mostras, sua arquitetura,
costumes, tradições,
embora dessa cidade eu agora
me lembre apenas de uma mulher
que encontrei por acaso
e me deteve por amor de mim
e juntos estivemos
dia por dia e mais noite por noite
— posso afirmar que só me lembro mesmo
dessa mulher que se apegou a mim
apaixonadamente,
de quanta vez andamos, nos amamos,
de novo nos deixamos,
de novo ela a pegar-me pela mão,
e eu sem precisar ir:
vejo-a bem perto a meu lado
de tristes lábios trêmulos
calados.

(Do livro Folhas das folhas da relva, de Walt Whitman. Trad.: Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.)

terça-feira, 12 de maio de 2009

GALERIA: STÉPHANE MALLARMÉ


DOIS POEMAS EM PROSA

UM FRAGMENTO DE IGITUR

“Sobre as cinzas dos astros, as indivisas da família, estava o pobre personagem, deitado após haver bebido a gota de nada que falta ao mar. (O frasco vazio, loucura, tudo o que resta do castelo?) O Nada tendo partido, resta o castelo da pureza.”

(Fragmento de Igitur ou A Loucura de Elbehnon, de Stéphane Mallarmé. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984)


UM FRAGMENTO DOS CANTOS DE MALDOROR

“Eu fiz um pacto com a prostituição, a fim de semear a desordem entre as famílias. Recordo-me da noite que precedeu essa perigosa ligação. Vi a minha frente um túmulo. Escutei um vaga-lume, do tamanho de uma casa, dizer-me: ‘Vou te iluminar. Lê a inscrição. Não é de mim que vem essa ordem suprema’. Uma vasta luz cor de sangue, ante cujo aspecto meus maxilares bateram e meus braços tombaram inertes, derramou-se pelos ares até o horizonte. Apoiei-me a um muro em ruínas, pois ia cair, e li: ‘Aqui jaz um adolescente que morreu tuberculoso: sabeis por quê. não orai por ele’. Muitos homens talvez não tivessem tanta coragem quanto eu. Enquanto isso, uma bela mulher nua veio deitar-se a meus pés. Eu para ela, com uma expressão triste: ‘Podes te erguer’. Estendi-lhe a mão com a qual o fratricida degola sua irmã. O vaga-leme, para mim: ‘Tu, pega uma pedra e mata-a.’ — ‘Por quê?’, disse-lhe eu. ele, para mim: ‘Toma cuidado, tu, o mais fraco, pois sou o mais forte. Essa aí se chama a Prostituição.’ As lágrimas nos olhos, a raiva no coração, senti nascer em mim uma força desconhecida. Peguei uma grande pedra; depois de muitos esforços, levantei-a com dificuldade até a altura do meu peito; coloquei-a sobre o ombro com o braço, escalei uma elevada montanha até o topo; dali, esmaguei o vaga-lume.”

(Fragmento de Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

CURSO DE CRIAÇÃO POÉTICA À DISTÂNCIA

O Laboratório de Criação Poética, criado por Claudio Daniel, também oferece cursos on line para quem mora em outras cidades, via Skype. O programa, dividido em vários módulos, inclui exposições teóricas sobre Mallarmé, Valéry, Ezra Pound, Haroldo de Campos, entre outros poetas, e exercícios práticos de criação. Quem estiver interessado em participar pode enviar uma mensagem para o e-mail claudio.dan@gmail.com.

domingo, 10 de maio de 2009

GALERIA: ARTHUR RIMBAUD


SOBRE O POEMA EM PROSA

“O poema em prosa constitui uma dualidade (...) na qual o primeiro termo diz respeito à matéria (poesia) e o segundo à forma (a disposição graficamente tradicional da prosa). De onde se manifestarem ao mesmo tempo no poema em prosa uma força anárquica, destruidora, que conduz à negação das formas existentes e uma força organizadora, que tende a construir um ‘todo’ poético; e a própria expressão poema em prosa sublinha essa duplicidade: quem escreve em prosa se revolta contra as convenções métricas e estilísticas; quem escreve um poema visa criar uma forma organizada, fechada em si mesma, subtraída ao tempo. Os dois pólos estabelecem uma contínua tensão dialética, correspondente ao embate entre a ‘organização artística’ e a ‘anarquia destruidora’, entre duas modalidades de ‘ordem’: a anarquia equivale à ‘ordem que se deseja fundar’, e a outra reflete a que parece existir no mundo dos seres e objetos (Bernard, 1959: 444, 449). Ao fim da pugna, a vitória sorri à poesia: do contrário, não procederia a expressão ‘poema em prosa’. O ritmo segue uma modulação mais atenta às unidades melódico-semântico-emotivas que à sintaxe, e muitas vezes os segmentos frásicos articulam-se com relativa simetria, que lembra a regularidade do verso. E o ‘eu’ impera sobre o ‘não-eu’. Em síntese: o quadro próprio da poesia configura-se nitidamente no poema em prosa. E não poderia ser de outro modo, uma vez que a distinção entre a poesia e a prosa independe da forma empregada.”

(MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004)


DE UMA TEMPORADA NO INFERNO, DE RIMBAUD

“A mim. A história de uma de minhas loucuras.

Há muito tempo que eu me vangloriava de possuir todas as paisagens possíveis, e achava ridículas as celebridades da pintura e da poesia modernas.

Eu amava as pinturas idiotas, estofos de portais, cenários, lonas de saltimbancos, tabuletas, estampas coloridas populares; a literatura fora de moda, latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossas avós, contos de fadas, livrinhos infantis, óperas velhas, estribilhos piegas, ritmos ingênuos.

Eu sonhava com cruzadas, viagens de descoberta cujas narrações jamais foram feitas, repúblicas sem histórias, guerras religiosas sufocadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e de continentes: eu acreditava em todos os encantamentos.

Inventei a cor das vogais! — A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. — Regulei a forma e movimento de cada consoante e, com ritmos instintivos, nutri a esperança de inventar um verbo poético que seria um dia acessível a todos os sentidos. Eu me reservava sua tradução.”

(RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no inferno. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: ed. Francisco Alves, 1982.)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

GALERIA: CHARLES BAUDELAIRE


PRIMEIRA AULA, 09 DE MAIO

Caros, a primeira aula do Laboratório de Criação Poética acontecerá no dia 09 de maio (sábado), das 15 às 17h, no Ateliê do Centro, localizado na rua Epitácio Pessoa, 91, próxima à Praça da República. Serão abordados temas como o surgimento do verso livre, com a leitura e discussão de poemas das Folhas da Relva, de Walt Whitman, traduzidos por Geir Campos, e a tradição do poema em prosa, com a análise de fragmentos de Uma temporada no inferno, de Rimbaud, e Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Na próxima aula, dia 16, teremos uma conversa sobre o Lance de Dados, de Mallarmé, que abriu caminho para uma nova sintaxe poética, espacial e ideogrâmica, que permite uma pluralidade de sequências de leitura. O Laboratório de Criação Poética pretende apresentar, em cada aula, um tema relacionado à poesia moderna, para a posterior discussão de conceitos com a classe. Os alunos também serão convidados a criar poemas que serão analisados em termos de construção formal, e depois publicados neste blog, que servirá como quadro de avisos e antologia virtual. O curso será ministrado pelo poeta Claudio Daniel, em módulos sucessivos, com apostilas, referências bibliográficas, projetos de criação e divulgação poética. Sua duração é indeterminada: a própria classe irá definir a dinâmica e continuidade do curso, que visa compartilhar informações sobre o fazer poético e estimular a capacidade criativa dos alunos, para que cada um possa desenvolver a sua própria estratégia literária. Quem quiser participar do curso, pode pegar o bonde andando: basta enviar um e-mail para claudio.dan@gmail.com
BIBLIOGRAFIA DA AULA 1

GINSBERG, Allen. Uivo, Kaddish e outros poemas. Trad.: Claudio Willer. Porto Alegre: L&PM, 1984.

LAUTRÉAMONT: Obra completa (Os cantos de Maldoror, Poesias, Cartas). Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Uma temporada no inferno & Iluminações. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

WHITMAN, Walt. Folhas das folhas da relva. Trad.: Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.

WHITMAN, Walt. Folhas da relva. Trad.: Rodrigo Garcia Lopes. São Paulo: Iluminuras, 2005.