sexta-feira, 16 de maio de 2014

Red Rocks



















XI -    estrutura indiscreta
         no deserto de chamas

XII -   passagem de fendas
         no inabalável ressoar
         acústico de abismos

XIII -  forma fragmentária
         que vicia e anestesia
         espalhando entre os dedos
         cristais, resíduos

XIV -  despropósito esforço
         de mecanismos anatômicos
         para atingir a supremacia

XV -   vermelha e desentranhada
         absorve com calma
         a voz emudecida
         no delírio da ascensão

XVI -  desordem de nervos
         regletando no improviso
         de faces cortantes

XVII - adere ousada
         expele revoluta
         a hesitação

XVIII -sequências cadenciadas
         saudando o desígnio

XIX - fantasia, miragem
        indolente contraposição

XX -  da verdadeira imagem
        inundada de calcário e arenito
        paraíso ao pico, redenção

(Poema de Marcela C. Gallic)
(Foto de Super Dave)

Épura





















À Hilda Hilst

íris de ouro
que se projeta

em cristal líquido

girassol de esporas 
na retina do tempo

termômetro em fúria

solário 
em ebulição  

tempestade 
cobre o olho coral 
trava o relógio do sol
no despertar da tarde

dorme o rei em migas
por fás ou por nefas
madre sola em largos silvos
dorme o rei...

cerram-se as cortinas 
em impromptu

épura em descanso 
"toma corpo no todo"

revigora


(Poema de Maria Alice de Vasconcelos) 

domingo, 30 de março de 2014

Sonho 1





















um sonho num corpo
nu que se contorce

à beira do abismo
a besta invisível

só mão e chicote
escarna-me o corpo

visão quase lógica
em mão e chicote

da beira e do alívio
na besta do abismo

que não se contorce
meu corpo que rola

nu em desespero
caindo em mim mesmo

me vendo cair
do fundo do abismo

e me desespero
no fundo em mim mesmo

caindo em sorrisos
da besta do alívio

me vendo me ver
caindo no eterno

caindo do inferno
caindo no inferno


(Poema de Luiz Ariston)
















O manto da noite
É um peixe solúvel,

Um chicotear 
Da madrugada

Arde e explode
Com o sereno da manhã.

(Poema de Dora Dimolitsas)
Foto: Marcela C. Gallic

Navalha no Nervo
















folhas de amianto
sobre o teto
da velha construção
objeto do reparo 
imediato

foco na estrutura 
fora de forma
e avariada
análise do conteúdo
amplia a reforma

ponteiro e talhadeira
descaracterizam arcos
impõem às colunas
linha angular

rearranjo e substituição
dos componentes
imprimem ao espaço
design moderno

               detalhe por detalhe

               navalha no nervo

gozo ímpar
pelo estilo da forma 

                 face com novo ângulo 

templo contemporâneo
em papel permeável

(Poema de Maria Alice de Vasconcelos) 
S. Paulo, 06/2012              












O tempo furta o tempo
E nas Ba da la das das horas

As chamas inquietam-se
Nas cinzas,

Percorre a ponte, 
Onde fica o poente 

Atravessa ligeiro
O limiar fugaz 

Sorrateiro e sem cheiro
Um tirando de cansado.

(Poema de Dora Dimolitsas)

Sonho 2















sonho macabro
serpente em parapeito
janela abro
escamas no cimento


(Poema de Luiz Ariston)














Livro aberto é um infante
               Um pássaro de fogo
Rasga o espaço
               Busca novas fontes,
Tinge o papel
               Risca e sangra.
A linguagem é alma tatuada.

(Poema de Dora Dimolitsas)