quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SARAU DO LABORATÓRIO (XXXII)

Ao ritmo do vento
as árvores dançam
espalham sementes

Sol queimando
e o vento esfria
os pensamentos

O Lago verde
reflete a garça
engolindo peixe

Ao meio dia, juntos
a sombra e o corpo
se unem bem justos

A via Láctea
pisca na escuridão
aqui, pingos no chão

As sombras
escondem as caras
de sapos e rãs

A meia noite meia
nada, nada faz ruídos
nem moscas nem grilos

(Haicais de Carlos Bueno)

SARAU DO LABORATÓRIO (XXXI)


FLORA

Dono e cão
dorso
peito
pelos
cabeça com dentes afiados
fome e sede.

O olho do bicho aflora na alma um silêncio profundo,
do algo além
centro do húmus
sujo limpo.
Feridas recompus.


(Poema de Cristina Mira)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SARAU DO LABORATÓRIO (XXX)


Uma
O jardim a dois metros do chão
Ele, largo de ar
Água morta

Uma
A comichão de estrelas
Afirmam que não
Anafilático

Uma
O sol cacto
Próprios desconcertantes
Iridescentes planos

Uma
De sórdida borboleta
Lembremos
Afirmam que não

(Poema de Luiz Ariston)


CERRADO

Migra a gramínia
de um lado
a outro,
trepida
besouro
no arado;
tateia secura
em tapete
de palha,
encerra
sempre-viva;
migra
fogo-apagou
altaneiro.

Mira cultura,
terra de oceano
branco
rateia vida
degradada,
migra
mimoso
pepalanto
em fartura
braquiária;
não o solo pobre
mas (cobre)
cerrado
em pasto.

CHÃO DE ESTRELAS

Em lençol de ondas
do lago sem vento;
de seres albinos, bagres cegos,
arfando e farejando guano.

Em recife diamantino
flor dentro da bolha;
de cristal em espiral
jardim de aragonita.

Em labirinto de coral,
circula a gruta e trilha a pista
do”Jardineiro Artista”
carona em fio de Ariadne,
visão da Coroa Boreal.

Lio, liame de estrelas brilhantes,
turbilhão de ungüentos ventos,
feixe astral que une e envia
um sopro glacial
no rosto do viajante.

(Poemas de Célia Abila)


FOGO

O fogo não queima de maneira uniforme. Ser desigual é da sua essência. Antes as pregas das coisas, a carne da madeira, seu suco, que ferve de prazer.

Chamas cegam. Xamãs dos templos de um outro fogo no qual arderei, pelo pouco que ardi, nesta vida sensata.

Faço fogo. Faço fé na vida, em seus chamados, no calor das vergonhas, porque é lá, no inferno, que ela queima impura, infiel, inadequada.

Ateio fogo às minhas vestes. Só assim herdarei o reino dos meus. Queimando aqui e agora, de amor e de culpas, lhe asseguro: o azul dos céus pertence aos pássaros e aos desencarnados. Já reparou como os homens descem rápido das alturas? Pesa neles o peso das coisas que devem arder.

Os homens nasceram para queimar, lenta e gradualmente, pelas suas próprias pregas e prendas, conforme suas carnes requeiram. Deus não nos quer elevados como anjos.
Tudo a seu tempo. Não queimo etapas. Queimo-me primeiro.

(Poema de Sandro Capestrani)


Aço Duro é fechar
a Cromada Matraca
da Fechadura Bico-
de-Psitáceo que {sim!}
Fala pelas Maçanetas

***
Agrale Amarelo-Gualdo [Gralha
à Diesel pra meia-Dúzia
de Toneladas] por um
Tiriricado Tipo “sem Tirar
nem Por” (Cabeleira
Pra Lá — ou pra cá — de amarela
clara sob claro
Chapéu de Palha) é Chofereado

(Poemas de Fabrício Slaviero)