sexta-feira, 29 de maio de 2009

QUARTA AULA, 30 DE MAIO

Caros, como na última aula fizemos a leitura e avaliação dos poemas dos alunos, a apresentação sobre Mallarmé será feita amanhã, dia 30 de maio. Nas aulas seguintes, conversaremos sobre as primeiras vanguardas do século XX, com ênfase nas formas que surgem em resposta à crise do verso, como as “palavras em liberdade”, de Marinetti, a escrita automática dos surrealistas, a linguagem zaúm de Khlénbikov, os recursos sonoros dadaístas e os caligramas de Apollinaire, que depois foram sintetizados, na década de 1950, na Poesia Concreta. A bibliografia será publicada aqui na próxima semana. Após a conclusão desse módulo, iniciaremos outro, em julho, sobre o Poema Moderno. Em cada aula, falaremos sobre textos essenciais do século XX, como a Terra Devastada, de T. S. Eliot, Os Cantos, de Ezra Pound, A Máquina do Mundo, de Drummond, entre outros. E continuaremos com os exercícios de prática poética, com a leitura e discussão dos trabalhos dos alunos, que serão publicados neste blog e mais tarde numa antologia e plaquetes. Até amanhã, e leiam Mallarmé antes de dormir.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (III)

Camaleônica triste

As coisas em que eu poderia me transformar
são feias.

*
Vocação

Ouvir tua respiração
me odiando na sala
me convoca de amor
profundamente.


*
Lua de fel

Os espaços que eu completo com prazer
saem e
chegam maiores.


*
Time of Death Certainty Principle

Nosso amor morreu dia quatro
do quatro
às quatrorze e quarenta.
Doze horas atrás.

*
Pra mim

Pra mim,
me amar
é a tua fraqueza.


*
Quero os teus cabelos

Para mandar
cortar.

(Poemas de Élida Lima)

GALERIA: GERTRUDE STEIN


quarta-feira, 27 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (II)

CORPULAÇÃO (ESCRITURA DA CARNE)


Dentro de mim,
um, meio, desassossego sugado na areia que move e leva e traz.

Uivos-rouge abafados na carne

Penso alto, falo baixo.
Captadas as palavras perdidas na lixeira dos PCs; formam jogos, viram ouro.

Suspende corpo crepito; passos certos de uma dança sem intenção.
Esfrega dorso em seu oposto
Pêlo eriçado pelo desconhecido.

Se hospeda na invasão.
Deixa-se ir inteira, para além do pêlo, para além da carne.
Finca no azeite do bicho.

Jogo de palavras; lanço uma, duas, três..... Formam frases inteiras, mas nada muda quando faladas. Escritas, portam-se com outra intenção (Atention!).

Metamorfoseiam-se de escamas reflexas.
Cooptados, viram presas da imensidade.
(mais que frêmito)

única união ultrapassa cadacorpo (à corps perdu), cada qual, soprando o instinto natural de cada coisa: razão da ex-sistência?

Levanto-me para ver o que não escrevo.
- O que não vejo?
Atrás do vão, trincas de destino numa vastidão,
Rabiscos tatuados para fazer tua noite.

(já não mais bichos; balbuciam palavras)

Agora, mais que o nada: um sopro.



(Poema de Fabiola Ramon)

GALERIA: GUILLAUME APOLLINAIRE

terça-feira, 26 de maio de 2009

SARAU DO LABORATÓRIO (I)

1.
caminhando uma vez encontrei um cheiro bem doce, um silêncio quente de melão. O som de cortar, rachar um melão é bem reconhecível, como um uivo ou gemido. {Aluar

a pele tem tons esverdeados de melão, no verão todo a noite a pele é bem doce. o som da terra dormindo. {uma lua
tão aberta me lembro este dia. uma mancha linda e desfocada, leite de tigre. dissolvida no breu sem constelação alguma,
{aroma um entre um instante e outro


________________________________________________________


2.
o gosto de um cogumelo é um gosto de lama, madeira e chuva. envergonhado ou simplesmente fugidio, se revela no vapor.
Imagino se depois de uma chuva-
murmurar de verão a floresta cheira a sopa.
{claro que não
(uma vez vi um gato subir uma árvore e cair dum galho velho e quebrado, sem se machucar, a língua lilás lambeu a alma que tentou escapar-lhe pelo nariz.)


(Poemas de Bruno Trochmann)

domingo, 24 de maio de 2009

POESIA DOS QUATRO CANTOS: COREIA

O Sijô é uma forma poética de origem coreana, composta de três versos que contam 45 sílabas. Em sua origem, o sijô era um poema cantado; com o tempo, porém, passou a ser uma composição escrita. Entre os séculos XIII e XIV, o gênero chegou ao seu apogeu, com autores como Yi Jo-nyón e Kir Je, mas foi praticado até meados do século XIX. Sua temática, em geral, está relacionada com a ideologia confuciana, mas também há peças líricas e religiosas. Estima-se que cerca de 3.500 sijôs tenham chegado à era moderna, em várias compilações. No Brasil, Alberto Marsicano e Yun Jung Im traduziram vários sijôs, reunidos na antologia Sijô, poesiacanto coreana clássica (São Paulo: Iluminuras, 1994). Confiram abaixo alguns poemas:



A cordilheira
longa longa
As águas
longe longe

Saudades
de meus pais
tanta tanta
funda funda

De algum lugar ouço uma garça
voar sozinha
em prantos prantos

(Poema de Yun Són-do, 1587-1671)

* * *

Se é negro
dizem branco
Se é branco
dizem negro

Negro
ou branco
quem afinal
concorda?

Fecho os olhos, tapo os ouvidos
e não quero mais
saber disso!

(Poema de Kim Su-jang, 1690-?)


* * *

Um cego carrega
outro nas costas
Pés sem meia
tamancos sem salto

Juntos atravessam
a ponte de tronco podre

Um Buda de pedra sob a ponte
dá uma bela
gargalhada

(Autor anônimo)


Traduções: Yun Jung Im e Alberto Marsicano

GALERIA: STÉPHANE MALLARMÉ (II)


quinta-feira, 21 de maio de 2009

TERCEIRA AULA, 23 DE MAIO

Caros, na terceira aula do Laboratório de Criação Poética, vamos concluir o tópico sobre o poema em prosa, com a leitura e discussão do Igitur, de Stéphane Mallarmé. Em seguida, vamos conversar sobre o pensamento estético do autor francês, e faremos a leitura do soneto em ix (“Puras unhas no alto ar dedicando seus ônix”, na tradução de Augusto de Campos), comentado por Octavio Paz no ensaio Stéphane Mallarmé: o soneto em ix (incluído no livro Signos em rotação). Por fim, falaremos sobre o poema espacial Um lance de dados e o Livro inacabado do poeta francês, pontos de partida da poesia de vanguarda do século XX. É recomendável que vocês leiam, além do texto de Octavio Paz, o primeiro ensaio do livro A arte no horizonte do provável, de Haroldo de Campos. Confiram abaixo a bibliografia da aula:


CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1976.

MALLARMÉ, Stéphane. Mallarmé. Trad.: Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari. São Paulo, Perspectiva, 1980.

MALLARMÉ, Stéphane. Igitur ou A loucura de Elbehnon. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MALLARMÉ, Stéphane. Poemas. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

MALLARMÉ, Stéphane. Brinde fúnebre e outros poemas. Trad.: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.

PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1996.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

ARTIMANHAS POÉTICAS





O festival literário Artimanhas Poéticas será realizado nos dias 12 e 13 de junho, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria do poeta Claudio Daniel. O evento, que contará com a participação de críticos literários, poetas jovens e consagrados e editores de revistas, incluirá palestras, debates, recitais, lançamentos, performances musicais e de poesia sonora. Confiram a programação completa no site http://artimamhas.blogspot.com/ Este evento faz parte do programa de atividades do Laboratório de Criação Poética, que além de cursos e palestras realiza também eventos e consultoria de projetos na área da literatura (livros, revistas, sites, blogues etc.) O segundo evento da série Artimanhas Poéticas acontecerá em novembro, na cidade de Adamantina, em 2010 será em São Paulo e poderá ser realizado em outras cidades que tenham instituições interessadas em apoiar sua organização.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CURSO VIA INTERNET

Caros, no dia 02 de junho, terça-feira, das 20 às 22h, começará um novo curso do Laboratório de Criação Poética, que acontecerá on line, via Skype. O conteúdo será o mesmo das aulas no Ateliê do Centro, com a vantagem de que poderão participar interessados que morem em outras cidades (é preciso apenas ter um computador, acesso à internet e estar cadastrado no Skype). A mensalidade é de R$ 30,00. Quem quiser participar pode enviar um e-mail para mim, claudio.dan@gmail.com.

sábado, 16 de maio de 2009

GALERIA: LAUTRÉAMONT


DO LIVRO OS CANTOS DE MALDOROR

Há horas na vida em que o homem de cabeleira piolhenta lança o olhar fixo, miradas ferozes para as membranas verdes do espaço; pois lhe parece ouvir, a sua frente, as irônicas vaias de um fantasma. Cambaleia e baixa a cabeça; isso que ouviu é a voz da consciência. Então, precipita-se para fora da casa, com a rapidez de um louco, toma a primeira direção que se oferece a seu estupor, e devora as planícies rugosas da campina. Mas o fantasma amarelo não o perde de vista, e o persegue com igual velocidade. Por vezes, em uma noite de tempestade, enquanto legiões de polvos alados, semelhantes de longe a corvos, planam acima das nuvens, dirigindo-se com um vôo direto rumo às cidades dos humanos, com a missão de adverti-los para que mudem de conduta, o pedregulho, de olhar sombrio, vê dois seres passarem à luz do relâmpago.”

(Fragmento de Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

GALERIA: EDGAR ALLAN POE


SEGUNDA AULA, 16 DE MAIO

Caros, na segunda aula do Laboratório de Criação Poética, vamos retomar a discussão do poema em prosa. Faremos a leitura e discussão de alguns trechos de Uma temporada no inferno, de Rimbaud: Igitur, de Mallarmé, e Os cantos de Maldoror, de Lautréamont. Recordaremos ainda alguns conceitos de Edgar Allan Poe, expostos no ensaio Princípio poético (como a noção de que poesia é a “construção precisa do impreciso”, e a idéia de que a imaginação é combinatória). Na segunda metade da aula, faremos a leitura e discussão dos poemas apresentados por vocês, e concluiremos os tópicos “verso livre” e “poema em prosa”. Na próxima semana, iniciaremos um novo tópico, o poema espacial Um lance de dados, de Mallarmé, ponto de partida para diversas experiências de vanguarda realizadas no século XX, como os Caligramas de Apollinaire, a Poesia Concreta e a Poesia Visual.

BIBLIOGRAFIA DA AULA 2

LAUTRÉAMONT: Obra completa (Os cantos de Maldoror, Poesias, Cartas). Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997.

MALLARMÉ, Stéphane. Igitur ou A loucura de Elbehnon. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MOISÉS, Leyla Perrone. Lautréamont. Vulgo Ducasse, aliás Maldoror. São Paulo: Brasiliense, 1984.

POE, Edgar Allan. Poemas e ensaios. Trad.: Oscar Mendes. São Paulo: Globo, 1999.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Uma temporada no inferno & Iluminações. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Rimbaud livre. Trad.: Augusto de Campos. São Paulo: Perspectiva, 1992.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

GALERIA: WALT WHITMAN


UM POEMA DE WALT WHITMAN

CERTA VEZ NUMA CIDADE

Certa vez eu passei
por uma cidade bem populosa,
guardando no meu cérebro impressões
para futuro emprego,
com suas mostras, sua arquitetura,
costumes, tradições,
embora dessa cidade eu agora
me lembre apenas de uma mulher
que encontrei por acaso
e me deteve por amor de mim
e juntos estivemos
dia por dia e mais noite por noite
— posso afirmar que só me lembro mesmo
dessa mulher que se apegou a mim
apaixonadamente,
de quanta vez andamos, nos amamos,
de novo nos deixamos,
de novo ela a pegar-me pela mão,
e eu sem precisar ir:
vejo-a bem perto a meu lado
de tristes lábios trêmulos
calados.

(Do livro Folhas das folhas da relva, de Walt Whitman. Trad.: Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.)

terça-feira, 12 de maio de 2009

GALERIA: STÉPHANE MALLARMÉ


DOIS POEMAS EM PROSA

UM FRAGMENTO DE IGITUR

“Sobre as cinzas dos astros, as indivisas da família, estava o pobre personagem, deitado após haver bebido a gota de nada que falta ao mar. (O frasco vazio, loucura, tudo o que resta do castelo?) O Nada tendo partido, resta o castelo da pureza.”

(Fragmento de Igitur ou A Loucura de Elbehnon, de Stéphane Mallarmé. Trad.: José Lino Grunewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984)


UM FRAGMENTO DOS CANTOS DE MALDOROR

“Eu fiz um pacto com a prostituição, a fim de semear a desordem entre as famílias. Recordo-me da noite que precedeu essa perigosa ligação. Vi a minha frente um túmulo. Escutei um vaga-lume, do tamanho de uma casa, dizer-me: ‘Vou te iluminar. Lê a inscrição. Não é de mim que vem essa ordem suprema’. Uma vasta luz cor de sangue, ante cujo aspecto meus maxilares bateram e meus braços tombaram inertes, derramou-se pelos ares até o horizonte. Apoiei-me a um muro em ruínas, pois ia cair, e li: ‘Aqui jaz um adolescente que morreu tuberculoso: sabeis por quê. não orai por ele’. Muitos homens talvez não tivessem tanta coragem quanto eu. Enquanto isso, uma bela mulher nua veio deitar-se a meus pés. Eu para ela, com uma expressão triste: ‘Podes te erguer’. Estendi-lhe a mão com a qual o fratricida degola sua irmã. O vaga-leme, para mim: ‘Tu, pega uma pedra e mata-a.’ — ‘Por quê?’, disse-lhe eu. ele, para mim: ‘Toma cuidado, tu, o mais fraco, pois sou o mais forte. Essa aí se chama a Prostituição.’ As lágrimas nos olhos, a raiva no coração, senti nascer em mim uma força desconhecida. Peguei uma grande pedra; depois de muitos esforços, levantei-a com dificuldade até a altura do meu peito; coloquei-a sobre o ombro com o braço, escalei uma elevada montanha até o topo; dali, esmaguei o vaga-lume.”

(Fragmento de Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

CURSO DE CRIAÇÃO POÉTICA À DISTÂNCIA

O Laboratório de Criação Poética, criado por Claudio Daniel, também oferece cursos on line para quem mora em outras cidades, via Skype. O programa, dividido em vários módulos, inclui exposições teóricas sobre Mallarmé, Valéry, Ezra Pound, Haroldo de Campos, entre outros poetas, e exercícios práticos de criação. Quem estiver interessado em participar pode enviar uma mensagem para o e-mail claudio.dan@gmail.com.

domingo, 10 de maio de 2009

GALERIA: ARTHUR RIMBAUD


SOBRE O POEMA EM PROSA

“O poema em prosa constitui uma dualidade (...) na qual o primeiro termo diz respeito à matéria (poesia) e o segundo à forma (a disposição graficamente tradicional da prosa). De onde se manifestarem ao mesmo tempo no poema em prosa uma força anárquica, destruidora, que conduz à negação das formas existentes e uma força organizadora, que tende a construir um ‘todo’ poético; e a própria expressão poema em prosa sublinha essa duplicidade: quem escreve em prosa se revolta contra as convenções métricas e estilísticas; quem escreve um poema visa criar uma forma organizada, fechada em si mesma, subtraída ao tempo. Os dois pólos estabelecem uma contínua tensão dialética, correspondente ao embate entre a ‘organização artística’ e a ‘anarquia destruidora’, entre duas modalidades de ‘ordem’: a anarquia equivale à ‘ordem que se deseja fundar’, e a outra reflete a que parece existir no mundo dos seres e objetos (Bernard, 1959: 444, 449). Ao fim da pugna, a vitória sorri à poesia: do contrário, não procederia a expressão ‘poema em prosa’. O ritmo segue uma modulação mais atenta às unidades melódico-semântico-emotivas que à sintaxe, e muitas vezes os segmentos frásicos articulam-se com relativa simetria, que lembra a regularidade do verso. E o ‘eu’ impera sobre o ‘não-eu’. Em síntese: o quadro próprio da poesia configura-se nitidamente no poema em prosa. E não poderia ser de outro modo, uma vez que a distinção entre a poesia e a prosa independe da forma empregada.”

(MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004)


DE UMA TEMPORADA NO INFERNO, DE RIMBAUD

“A mim. A história de uma de minhas loucuras.

Há muito tempo que eu me vangloriava de possuir todas as paisagens possíveis, e achava ridículas as celebridades da pintura e da poesia modernas.

Eu amava as pinturas idiotas, estofos de portais, cenários, lonas de saltimbancos, tabuletas, estampas coloridas populares; a literatura fora de moda, latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossas avós, contos de fadas, livrinhos infantis, óperas velhas, estribilhos piegas, ritmos ingênuos.

Eu sonhava com cruzadas, viagens de descoberta cujas narrações jamais foram feitas, repúblicas sem histórias, guerras religiosas sufocadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e de continentes: eu acreditava em todos os encantamentos.

Inventei a cor das vogais! — A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. — Regulei a forma e movimento de cada consoante e, com ritmos instintivos, nutri a esperança de inventar um verbo poético que seria um dia acessível a todos os sentidos. Eu me reservava sua tradução.”

(RIMBAUD, Arthur. Uma temporada no inferno. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: ed. Francisco Alves, 1982.)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

GALERIA: CHARLES BAUDELAIRE


PRIMEIRA AULA, 09 DE MAIO

Caros, a primeira aula do Laboratório de Criação Poética acontecerá no dia 09 de maio (sábado), das 15 às 17h, no Ateliê do Centro, localizado na rua Epitácio Pessoa, 91, próxima à Praça da República. Serão abordados temas como o surgimento do verso livre, com a leitura e discussão de poemas das Folhas da Relva, de Walt Whitman, traduzidos por Geir Campos, e a tradição do poema em prosa, com a análise de fragmentos de Uma temporada no inferno, de Rimbaud, e Cantos de Maldoror, de Lautréamont. Na próxima aula, dia 16, teremos uma conversa sobre o Lance de Dados, de Mallarmé, que abriu caminho para uma nova sintaxe poética, espacial e ideogrâmica, que permite uma pluralidade de sequências de leitura. O Laboratório de Criação Poética pretende apresentar, em cada aula, um tema relacionado à poesia moderna, para a posterior discussão de conceitos com a classe. Os alunos também serão convidados a criar poemas que serão analisados em termos de construção formal, e depois publicados neste blog, que servirá como quadro de avisos e antologia virtual. O curso será ministrado pelo poeta Claudio Daniel, em módulos sucessivos, com apostilas, referências bibliográficas, projetos de criação e divulgação poética. Sua duração é indeterminada: a própria classe irá definir a dinâmica e continuidade do curso, que visa compartilhar informações sobre o fazer poético e estimular a capacidade criativa dos alunos, para que cada um possa desenvolver a sua própria estratégia literária. Quem quiser participar do curso, pode pegar o bonde andando: basta enviar um e-mail para claudio.dan@gmail.com
BIBLIOGRAFIA DA AULA 1

GINSBERG, Allen. Uivo, Kaddish e outros poemas. Trad.: Claudio Willer. Porto Alegre: L&PM, 1984.

LAUTRÉAMONT: Obra completa (Os cantos de Maldoror, Poesias, Cartas). Trad.: Claudio Willer. São Paulo: Iluminuras, 1997.

RIMBAUD, Jean-Arthur. Uma temporada no inferno & Iluminações. Trad.: Ledo Ivo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

WHITMAN, Walt. Folhas das folhas da relva. Trad.: Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.

WHITMAN, Walt. Folhas da relva. Trad.: Rodrigo Garcia Lopes. São Paulo: Iluminuras, 2005.