domingo, 12 de setembro de 2010

SARAU DO LABORATÓRIO (XXI)

YÈYÉ OMO EJÁ

Yèyé Soba jimí
acorda-me no sono das profundezas tuas
com teus cabelos azuis de céu
com tua pele crespa de sal
com teus mundos náufragos
teu rigor líquido
e a justeza oscilante tão tua
Yèyé Iya Masemale jimí
acorda-me em tua geoconformidade pluri-ventral
com teu perfume de origem
exalando segredo antigo
com teus mil umbigos de imagens planetárias
ìdódò e os úteros de Gaia
linguagens impossíveis dos mundos teus
Yèyé Iyemoyo jimí
acorda-me no centro múltiplo do teu corpo galáctico
em teus braços con(fins) gelados infinitos
com a grafia-hidro-errática tua
a descrever ondas graves na voz de Netuno
Yèyé Akurá jimí
acorda-me com teus cemitérios flutuantes
teus mistérios impenetráveis de água turva
e a imensa vulva de algas avessas
do teu lodo cristalino
Yèyé Maleleo jimí
e ejá e irun e dígí jimí
acorda-me com tua música revolta e calma
e o sal azul nas veias largas
das memórias correntes livres
nas brânquias horas dos tempos teus
com tuas guelras em cavalos
e dentes marinhos
Yèyé Oyo jimí
e ilú e òkun e ohùn jimí
acorda-me na placenta impaciente
ao som do adjá o baú de Oxossi
reflexo sideral da tua sede impossível

Yèyé omo ejá : mãe cujos filhos são peixes
Jimi: acorda-me
Eja: peixe
Ìdódò: umbigo
Cabelo: irun
Ìlù: tambor
Dígí: espelho
Òkun: mar
Ohùn: voz

SÍLVIA NOGUEIRA

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